sexta-feira, 14 de agosto de 2009

055 - Nem Freud explica...

Eu estava irado. Como é que podiam fazer isso? Sem pensar muito, fui até a delegacia. Eles não podiam prender meu pai assim, sem nem um julgamento! Ainda mais ele que era responsável pela prisão! Depois de muita conversa, um pacto, mesmo sem ele concordar: eu ficaria no lugar dele.

Fui colocado num ônibus, com policiais nas portas, fortemente armados, e mais alguns presos. Passamos por vários lugares, entre eles todas as casas que já morei na vida. A cada uma, uma emoção diferente, lembranças há muito esquecidas. Numa delas, parte da minha família estava na calçada, esperando que eu passasse. Minha mãe, meu pai, meu irmão, meus avós... Virei o rosto, não conseguia olhar para eles naquele desespero. E chorei muito.

Ao parar numa cidade já longe da minha, provavelmente São Paulo, os policiais desceram e o ônibus ficou todo escuro. O instinto de sobrevivência me fez pensar em quebrar uma das janelas e tentar correr... Mas o medo de sentir a bala quente nas costas foi mais forte que eu.

E o medo só cresceu, enquanto o dia passava. Chegamos então à minha prisão, um quadrado muito escuro e sujo, com trapos por toda parte, um líquido no chão que eu nem podia imaginar o que era, homens e mulheres de aparência suja. Cheguei e me sentei proximo a grade da frente da cela, a única, e fiquei ali, rezando para que não notassem minha presença.

Quando, pra minha surpresa, veio entre as pessoas a minha irmã. Ela vem, muito sorridente, falar comigo, tentando me confortar que afinal a vida ali não era tão ruim. Eu não conseguia entender o que ela fazia ali. Mas eu sabia que ela ficaria apenas mais dois dias, talvez por isso a alegria toda.

O dia ia passando e os medos começaram a tomar conta de mim... Só conseguia pensar em como seria para tomar banho, com todos me olhando. Achei que a melhor maneira seria de costas para a parede, olhando tudo o tempo todo, por motivos óbvios. Que tipo de coisas fariam comigo dentro daquela cela? Esses pensamentos que agonizavam, e eu só pensava em alguém dar um jeito para eu sair dali.

Recebi, ainda no meio do meu primeiro dia, a visita do meu pai e de um homem, um senhor negro, que trabalhava com meu pai na administração da prisão, pelo jeito. Apenas ele conversou comigo, me mostrou recortes de jornal, minha história estava na manchete: "Filho tira pai da prisão" com o subtítulo "Mas acaba ficando em seu lugar". Li a matéria, consegui até ver meu nome escrito no jornal. Ele disse que isso era bom, ter a opinião pública ao meu lado. Mas que ele infelizmente nada podia fazer para me tirar dali. Nem meu pai. Nem ninguém. Eu teria que ficar ali 11 meses. 11 MESES.

Eles se foram e minha irmã ria muito. Dizia que eu ia acostumar, que não era tão ruim, que eram SÓ 11 meses. E eu só falava pra ela: "eu quero sair daqui, por favor". Ela gargalhava e dizia "mas vc não vai!". Eu não tinha passado nem 8 horas naquele lugar e já não aguentava mais... Em onze meses eu já estaria louco.

Então chegou a hora da comida, e eu vi a coisa mais assustadora do mundo. Os presos tinham organizado uma carne assada, e o preso responsável pelo "churrasco" estava vestido, literalmente, a caráter. Três grandes pedaços de carne estavam enrolados no seu corpo. Um em volta das pernas; outro, que parecia ser a costela inteira do animal morto, ao redor do tronco e um outro pedaço, cheio de nervos e membranas, enrolado em seu rosto. O sangue escorria pela carne enquanto ele servia a todos, andando por todos os lados da cela.

Me levantei e fui até o fim da cela, na parte mais escura. Eles acabavam de receber os cartões telefonicos a que cada preso tinha direito, mas como cheguei 'tarde', não tive esse privilégio. As mulheres brigavam entre si pelos cartões, e uma delas falou alguma coisa comigo, que eu fingi ignorar, mas sorri tentando ser simpático. Meu maior medo era que descobrissem de quem eu era filho, afinal meu pai havia colocados muitos deles ali.

Então o homem-carne trouxe um copo de água pra mim, e insistiu que eu bebesse. Quando ele me deixou sozinho, percebi a sede que estava e tomei quase o copo todo, sentindo um gosto amargo no final. Fiquei assustado e joguei o resto fora. Estava escuro e eu não podia ver o que tinha no copo. Minha irmã veio me perguntar pq eu não bebi tudo, sempre rindo muito, e eu disse que estava com um gosto muito estranho. Ela gargalhava ainda mais, e disse que o cara da carne tinha mijado no copo e me dado pra beber. Apavorado, pedi que ela não contasse a ninguém. Muito pior do que ter bebido era que os outros soubessem que eu tinha bebido.

O homem-carne, já sem a carne em volta do rosto, se aproximou e perguntou da ''água''. Pude ver seu rosto então, um homem dos seus 35 anos, pele morena escuro e quase obeso, com os olhos injetados, amarelos. Eu não respondi e ele começou a correr pela cela e zombar de mim, fazendo com que todos olhassem para mim, me apontassem e me fizessem me encolher no meu canto perto da cela de novo. Como eu implorava a Deus para me tirar dali. Isso havia sido o mínimo que fariam comigo ali... E ainda haviam 11 meses... Alguém me tire daqui, por favor...





* Nem preciso dizer que acordei totalmente deprimido... Foi um dos sonhos mais reais que eu já tive, e não foi nada bonito... Não só pelo lugar, pela situação, mas pelos sentimentos que eu 'senti', tão reais... Acordei esgotado...

5 comentários:

  1. isso que é ter um pesadelo... e o pior é a sensação quando acordamos...parece que um caminhão passou por cima da gente... ainda bem que foram poucas horas....

    Abs:-)

    ResponderExcluir
  2. credoooo
    fiquei só em ler o teu sonho!
    vai passar....tudo vai ficar bem...
    bjos te amo

    ResponderExcluir
  3. Cacete... eu nem conseguiria dormir outra vez!
    Ta louco!
    abs
    www.diariodomedo.blogspot.com

    ResponderExcluir
  4. eu fiquei esgotado por vc só lendo
    imagina vivenciando isso
    tem cada sonho que sempre nos consome...

    ResponderExcluir

Thanks for sharing...